quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Boletim do segundo dia de gravação (ou como entender que quando a gente relaxa tudo se encaixa)


Ontem na hora do almoço, saímos eu e David, nosso engenheiro de som, pra colher depoimentos na linha freestyle, já que os personagens que faltavam ser entrevistados eram todos do turno da noite. Pois então, ao chegar, David já veio gravando o som de um saxofonista lá quase na Rua do Catete, dando o toque captação de trilha sonora incidental e ambiental. Depois disso, enquanto caminhávamos em direção à Igreja, pra conversar com o Sacristão, vimos os estudantes que supostamente deveriam estar por lá à noite. Eles estavam de saída pruma ação estudantil da UJS (União da Juventude Socialista), mas marcaram um dez conosco e contaram suas peripécias no Largo. Falaram da Escola, que tem uns calabouços onde foi torturada muita gente, e comentaram que se sentem privilegiados de estudar num colégio com uma praça em frente, afinal, aqueles bancos, para além de orkut fora da internet, são uma espécie de porto seguro. Até a estátua que tem na frente da Escola eles sabiam de quem era, o que particularmente me deixou esperançosa nessa nova geração, não pela informação em si (afinal, hoje em dia, internet tá aí pra isso mesmo), mas, principalmente, pelo interesse em saber do que está à volta. Bem, terminado com eles, fomos à Igreja e descobrimos que ontem foi folga de nosso Sacristão, o que não nos impediu de ter uma deliciosa conversa com Vanessa, que trabalha na secretaria. Ela nos contou de um casamento de um povo gótico que rolou por lá. O noivo era um ator coadjuvante da Globo que ela não conseguiu lembrar o nome. O fato foi que, enquanto a noiva entrava, fazia-se a algazarra. O padre então parou tudo e disse que, da porta pra dentro, a festa era dos noivos e não dos convidados. Fez-se o silêncio e o casamento continuou. Saímos da Igreja e encontramos um senhor catador de papéis que disse que atravessar o Largo do Machado era equivalente a atravessar o Mar Vermelho. Depois dessa passagem quase bíblica e, para finalizar, fomos até Fada (foto), uma vendedora de cristais que tem um Centro Cultural em casa e que participou do maio de 68 em Paris. Assim que voltou da temporada européia, no ínício da década de oitenta, ela encenou a peça “Fada Lucinéia e o Rei da Prosopopéia”, de Lauro Benevides, lá no Laurinda Santos Lobo, em Santa Teresa. Aliás, foi depois disso que passou a ser chamada ostensivamente de Fada. Depois ela nos contou que sua paixão por pedras começou quando voltou do exterior, pois, como era poliglota, foi trabalhar em joalherias para se manter. Acredita que o trabalho que faz hoje em dia é muito mais significativo, pois leva em conta a questão espiritual das gemas e não necessariamente seu valor como jóia. Para ela, que trabalha por ali há 5 anos, o Largo é poesia, além de representar o local com o turismo mais discreto e "família" que existe no Rio de Janeiro.


Foi uma saída produtiva.

Depois conto mais.

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