segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Resumão do primeiro dia de gravação dos depoimentos (e dia de São Cosme e São Damião)


Começamos o dia conversando com um gari. Ao perguntarmos o nome dele, ele disse: "Eu sou o dia de hoje". Ficamos um tempo em silêncio e ele disse: "Meu nome é Damião!" Claro que já vimos logo naquilo um sinal, afinal, coincidências não existem. Damião comentou que há tempos trabalha por ali e que, dependendo da época do ano, o lixo vai mudando de figura, como se, assim como as árvores e as pessoas, também compusesse a paisagem do Largo. Ah! Antes de terminarmos, ele comentou que seu irmão gêmeo se chama Cosme. Depois dessa, fomos pra Galeria Condor captar uns sons ambientes, tipo os dos games, dos pedidos na rotisseria e dos carrinhos eletrônicos. Na volta, já conversamos com Jacob da pamonha, que, entre milhões de colocações interessantes, nos disse que uma das coisas de que tem saudade é do tempo em que o povo vivia se reunindo no Largo pra fazer forró e encontros espontâneos, sem iniciativa estatal nem privada, apenas pelo simples prazer de se divertir. Jacob está pelas redondezas do Largo, como morador, desde 1974 e se lembra dos cinemas São Luíz e Politheama. Enquanto eu pegava a autorização dele, David, nosso sound designer, conversou com um senhor de 97 anos que contou sobre o açogueiro que cortava carne com machado e que deu nome ao Largo. O tom dele era de muita propriedade sobre essa informação, aumentando ainda mais a mítica sobre a existência desse estabelecimento comercial. Depois desse momento 'cultura oral', partimos prum papo com Aluísio (e sua inseparável Maria) da tapioca, que se gabou do quão sensacional é sua receita, a ponto de ter gente que, ao invés de ir à Feira de São Cristóvão, prefere ficar pelo Largo e comer uma goma por ali mesmo. Aluísio é um figura conversador e deixou escapar que antigamente fazia uns arrasta-pés na sua casa, pertinho dali, muitas das vezes por conta de amigos músicos que vinham tocar no Rio e que aproveitavam pra fazer uma jam session em sua residência. Pra fazer o tempo passar até a hora combinada de encontrar com o "Da Rosca", pegamos o metrô e gravamos aquele aviso sonoro "Próxima estação: Largo do Machado". Foi um passeio bem rápido, até o Catete só. Na hora combinada, pra encerrar nosso dia, batemos um papo com Erisvaldo Correia dos Santos, mais conhecido como "Da Rosca", ambulante que se auto-intitula humorista, pois sua forma de vender é divertida e original. Natural do Crato, Erisvaldo disse que, no início de sua jornada carioca, encontrou certo preconceito em relação ao seu ofício, mas que, hoje, mais do que nunca, é feliz até dizer chega queimando a rosca.



Por enquanto é isso.



Depois conto mais.



*A foto deste post foi gentilmente cedida por Flávia Cândida

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