segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Zona Sul way of life


Abro a semana contando pra vocês uma pílula machadiana, que nada mais é do que a resposta de Machado, ou melhor, do Conselheiro Aires, que foi o alter ego do escritor (foto), à irmã, que julgava estranhíssimo que ele trocasse as chácaras da Tijuca e do Andaraí, confortáveis e amplas, por uma vida entre sobrados e lojas. Indignado com o estranhamento, disse: “Eu não vou viver com estranhos, não vou viver com ninguém, aliás, viverei com o Catete, com o Largo do Machado, com a praia de Botafogo, a do Flamengo, não com as pessoas de lá, mas com as ruas, as casas, os chafarizes e as lojas”.

O que se pode reparar nessa fala é a franca valorização do cosmopolitismo, que chegava (pra ficar) ao Rio de Janeiro com o fim da monarquia. Preconizava-se, nesse novo life style, o dinamismo das charretes de aluguel, das confeitarias de esquina, dos clubes e trottoirs. Com isso, de forma oposta, ia se desvalorizando a auto-suficiência das longínquas chácaras. Era o início do estilo Zona Sul, que unia acessibilidade, conforto e praticidade, transformando essa nova forma de viver e de morar num conceito, num status, quase numa visão de mundo.

Por conta disso, a escolha pelo Largo não foi privilégio só de Machado de Assis. Inúmeros intelectuais, artistas, celebridades e estudantes, conforme já vimos em posts anteriores, por ali passaram e ficaram, muito por conta da convivência pacífica, em um mesmo bairro, de hotéis glamourosos e pensões acessíveis, o que foi a mistura perfeita pra fazer do local um palco de grandes acontecimentos.

E por falar em palco, não nos esqueçamos da temporada oficial da performance do “Coreografia para prédios, pedestres e pombos”, entre 21 de outubro e 20 de novembro, no Oi Futuro, ali na Rua Dois de Dezembro, onde tem um KFC na esquina.

A entrada é franca e essa é a primeira chamada.

Esperamos todos por lá!



PS: Não preciso nem dizer, mas digo, só pra reforçar: logo ali, no Museu, sede da República por vários anos, Getúlio Vargas, segundo suas próprias palavras, saiu da vida para entrar pra história. Mais histórico que isso, impossível. Mas essa já é uma outra história. E das manjadas.



Fonte: LUSTOSA, Isabel: Bairros do Rio (Glória & Catete). Secretaria Municipal de Cultura – RJ, 1998.

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