sábado, 9 de outubro de 2010

Ele merece (sobre Emílio de Menezes)


Confesso a vocês que quem me chamou a atenção para o busto localizado no canteiro em frente à Escola Amaro Cavalcanti foram dois estudantes de lá que entrevistamos: a Acsa Ravena e o André. Eles me contaram que o busto é do Emílio de Menezes, um poeta parnasiano curitibano, dono de versos mordazes cheios de críticas aos políticos da época (ele viveu entre 1866 e 1918). Filho de poeta, sem ser de família abastada, trabalhou na farmácia de um cunhado e, ainda com dezoito anos, veio para o Rio de Janeiro. Sua postura era dissonante, não só no falar e no escrever, mas, também, no vestir. Boêmio, na capital do país encontrou solo fértil para destilar sua fértil imaginação, satírica como poucas. A amizade com intelectuais, entretanto, fez com que tivesse seu nome afastado do grupo inicial que fundara a Academia Brasileira de Letras. Apesar de preterido, em 1914, Emílio foi, finalmente, eleito o segundo ocupante da cadeira 20, cujo patrono é Joaquim Manuel de Macedo. A versão oficial da história, disponível no sítio da ABL, conta que Emílio, apesar de eleito, não chegou a tomar posse por conta do teor mordaz de seu discurso, o que fez com que a Mesa sugerisse algumas emendas ao mesmo. Teimoso, protelou o quanto pôde aceitar essas emendas, e quando faleceu, quatro anos depois de ter sido eleito, ainda não havia tomado posse de sua cadeira.

Para termos uma idéia do teor de sua verve, segue abaixo um de seus poemas.

A romã

Mal se confrange na haste a corola sangrenta
E o punício vigor das pétalas descora.
Já no ovário fecundo e intumescido, aumenta
O escrínio em que retém os seus tesouros. Flora!
E ei-la exsurge a Romã. Fruta excelsa e opulenta
Que de acesos rubis os lóculos colora
E à casca orbicular, áurea e eritrina ostenta
O ouro do entardecer e o paunásio da aurora!
Fruta heráldica e real, em si, traz à coroa
Que o cálice da flor lhe pôs com o mesmo afago
Com que a Mãe Natureza os seres galardoa!
Porém a forma hostil, de arremesso e de estrago,
Lembra um dardo mortal que o espaço cruza e atroa
Nos prélios ancestrais de Roma e de Cartago!


De agora em diante, quando vocês passarem por ali pela porta da Escola Amaro Cavalcanti, não se esqueçam de dar uma olhada no busto do poeta. Ele merece.
Fonte: wikipedia

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